quinta-feira, 15 de abril de 2010

Sêo Madruga

Parei para assistir Chaves hoje. Comecei a analisar, do nada, o personagem do Sêo Madruga. Talvez a mais complexa personagem deste seriado de comédia pastelão. O vi gritar a filha Chiquinha e a proibia de brincar de uma determinada brincadeira. Como não tinha cachorro de verdade, fingia ser o Chaves o cão dela.

Quem olha à primeira vista percebe no Madruga, ou Ramón, no original, toda uma grosseria e mau humor. Mas de onde se originou isso tudo? Quem se lembra da história, sabe que ele perdeu a esposa quando Chiquinha nasceu. Talvez ela fosse o pilar central da casa dos Madruga. O equilíbrio entre a sanidade a loucura. O ponto forte da casa. Depois do nascimento da filha, Ramón trabalhou de tudo. Lutou boxe, virou vendedor ambulante, sapateiro, carpinteiro, pintor, cabeleireiro, entre outras cositas para as quais nunca levou jeito. Até vendedor de balões.

Na vila onde mora, sofre por não poder pagar o aluguel. Não tem dinheiro para tal. Quando tem, surgem outras coisas que o fazem gastar o dinheiro. Comprar comida ou uma roupa nova estão entre elas. Sempre deu um jeitinho, descontando do aluguel pago ao Senhor Barriga uma bola de boliche ou um pedaço de tecido made in Taubaté.

Em meio a tudo isso ainda leva as pancadas diárias de Dona Florinda. Quase sempre sem razão ou culpa. Mesmo quando tem culpa, às vezes o motivo não é plausível para surras tamanhas. Quando bateu de frente com homens também não se deu bem. Já apanhou do dono da vila e do Professor Jirafales. E diante de tudo isso, tantas injustiças, como alguém pode continuar de bom humor? Falar é fácil, mas enfrentar tudo isso sozinho, com uma filha para criar e com o medo diário de ser despejado e levar para a rua também essa filha, a razão de viver dele, é muito mais complicado que se imagina.

Ainda no mesmo episódio de hoje, ao final ele presenteia Chiquinha com um cachorro de pelúcia. Explica sobre eles não terem condições de alimentar e cuidar de um cão de verdade, por isso deu o Peludinho de pelúcia para ela. Chiquinha vai brincar e cantar e Ramón fica ali, feliz por sentir o dever de pai cumprido e ter levado alegria ao coração da filha.

Mesmo com todo o mau humor do mundo, no fundo ele é apenas mais uma vítima das circunstâncias. Ele não para e pensa nas consequências dos atos, muitas vezes. Mas já ofereceu dinheiro ao pobre Chaves para fazer pequenos trabalhos, como regar os pézinhos, mexer uma lata de cola, etc. Ou quando recebeu elogios até de Dona Florinda sobre a famosa frase "As pessoas boas devem amar seus inimigos" e aquela "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena". No fim das contas, todos temos um pouco de Sêo Madruga. Eu pelo menos tenho e já tive bem mais.

Até a próxima... Espero que não demore tanto tempo para postar de novo

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